A vida é a
arte dos encontros e dos desencontros. Me pego pensando, em diversos momentos,
que a sabedoria de viver se encontra justamente aí: em saber fazer aí com os
encontros e desencontros da existência.
Quando é
que nos permitimos realmente encontrar alguém?
Não em um
sentido superficial, mas em um sentido verdadeiro? Ir ao encontro significa que
algo precisa ser deixado para trás, algo de mim tem que ceder para que se possa
acessar o que não sou eu, o que é o OUTRO.
A arte de
encontrar é a arte de amar, de dividir, de compartilhar experiências autênticas
e enriquecedoras. Mas, será que
posso encontrar o outro se não sei quem sou? Se ainda não ME encontrei?
Talvez
nunca nos encontraremos por inteiro, pois somos feitos de falhas, de pontos
cegos; talvez apenas nos apreendemos por pontas. E quando compreendemos a
nossa própria inconsistência, podemos aceitar a inconsistência do outro? As
falhas do outro? Os limites do outro?
Muitos
problemas relacionais se dão pois não aceitamos o outro como um ESTRANHO,
simplesmente, como alguém radicalmente diferente de nós. Podemos ter muitas
afinidades, mas o outro, por tudo que lhe constitui, é sempre radicalmente
diferente, radicalmente OUTRO.
Acontece
que nos foi ensinado, desde a tenra infância, que devemos amar e respeitar os
nossos semelhantes, e pode ser que seja essa uma das razões pelas quais temos tanta dificuldade em valorizar
as diferenças.
E essa é a
beleza da vida; encontrar o estranho e aprender com ele. Respeitá-lo, admirá-lo,
observá-lo… Dançar com ele, pintar com ele, cantar com ele. Isso é viver com
arte.
O homem e a
mulher são estranhos um para o outro. Um ser humano é sempre um estranho para o
outro ser humano. Somos estranhos vivendo em um mundo em comum, e é na
contemplação das diferenças que uma nova forma de convivência pode surgir.
Uma forma
criativa e apaixonante de se relacionar é sempre um encontro de estranhos. Apaixone-se, antes de mais nada, pelo estranho que habita em você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário