sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

JOGOS DE SEDUÇÃO


É discurso corrente no senso-comum: se queremos conquistar alguém, precisamos jogar. Muitas músicas e filmes trazem a idéia do jogo do amor a nossa intersubjetividade. Dizem por aí que quem não joga, vai com sede ao pote e revela tudo o que sente e pensa, de cara ou alterada, se dá mal. Vai sofrer no amor, vai ser rejeitada, apenas usada, etc. Mas será? Como jogar sem perder a espontaneidade, sem se tornar artificial? Como ser estratégica sem perder a naturalidade e a magia de simplesmente ser? É, afinal, preciso jogar para seduzir e conquistar?

Segundo o Minidicionário Aurélio (2010), Jogo quer dizer:  1. Atividade física ou mental fundada em sistema de regras que definem a perda ou o ganho. 2. Passatempo. 3. Jogo de azar, aquele em que a perda ou o ganho dependem mais da sorte do que do cálculo. 4. O vício de jogar. 5. Série de coisas que forma um todo, ou coleção. 6. Conjugação harmoniosa de peças mecânicas com o fim de movimentar um maquinismo. 7. Balanço, oscilação. 8. Manha, astúcia. 9. Comportamento de quem visa obter vantagens de outrem.

Vivemos em uma sociedade que fabrica valores comuns, massificados, que são apropriados pelas pessoas e acabam fazendo parte do nosso psiquismo. Podem não ser idéias que correspondam ao que realmente sentimos, mas  que circulam entre os diferentes meios e determinam um grande número de práticas sociais. Essas idéias comuns justificam os preconceitos. Mentes menos críticas não problematizam estes preconceitos e os reproduzem quase sem pensar. A idéia de que é preciso jogar para conquistar é um exemplo disto, e muita gente acredita nela sem refletir mais sobre o assunto.

Vamos imaginar uma situação hipotética… Você está solteira, há algum tempo sem namorar, um pouco carente de ouvir coisas bonitas e de ter alguma segurança emocional.  Então, sai na balada e conhece alguém. O papo flui, o beijo é bom e a coisa toda se desenvolve bem. Tem química no pedaço. A noite está chegando ao fim e a pessoa te convida para ir para algum lugar, para sua casa, por exemplo. Neste momento se instala o primeiro dilema moral, que pode não ser percebido no momento (e provavelmente não  será, se você tiver alterada). Se  o sexo for muito fácil, dizem por ai que o homem não valoriza a mulher. Tudo bem, na hora você não pensou e foi. Fez o que desejava,  foi tudo lindo e gostoso. Você sentiu muita satisfação e tremeu da cabeça aos pés. Ao final da ‘ópera’ voltou pra casa, tomou um banho, dormiu e não lembra do que sonhou.

No outro dia, com seu estado de consciência “normalizado,” você acorda e lembra da noite passada. Lembra do beijo, do carinho no pescoço, do sexo, e sonha um pouquinho acordada. Constata que ficou afim do sujeito e ouve aquela vozinha ecoando na sua mente: “quero mais!.” A moral começa a bater e você se questiona se agiu certo e se ele vai ligar, ou se vai adcionar no facebook, ou se vai mandar mensagem; enfim, se vai te procurar de novo. E se ele procurar, como agir? E se agir, o que esperar? A imaginação é uma das coisas mais maravilhosas em nós, mulheres. Precisamos usá-la em nosso favor.

Se fosse agir de maneira espontânea, no próximo encontro ( mesmo que virtual ) com o sujeito você iria lhe dizer “toda a verdade”. Que não parou de pensar nele um segundo, que o beijo dele é fantástico, que o sexo foi fabuloso e que só de lembrar você fica excitada novamente, entre outras milhares de possibilidades da fantasia. Contudo, você aprendeu que precisa jogar. Que, em primeiro lugar, deve esperá-lo e não ir procurá-lo, que deve agir como se o ocorrido não tivesse significado muito na sua vida, afinal, você quase nem lembra mais que ele existe. Jogar e se fazer de difícil parecem sinônimos. Mas será que são?

Conversando com alguns homens, eles  contam que realmente gostam de desafios, e que mulheres que são difíceis tendem a ter mais graça para eles. Contudo, desafio e dificuldade são conceitos que não se resumem em poucas palavras. Você pode encontrar diversas formas de ser um difícil desafio, se desejar o ser. Não existe, para uma alma criativa, a necessidade de seguir as velhas fórmulas massificadas que envolvem, principalmente, o quesito de permanecer na passividade. Bancar a mulherzinha que não sabe o que deseja, em pleno século XXI?

Presenciamos um momento histórico de muitas transformações objetivas e subjetivas. Instituições que sempre regeram o funcionamento da sociedade são questionadas e valores que norteavam as condutas agora pouco valem. Apesar das mudanças, é fato que o desejo e a falta se relacionam intimamente na mente humana. Permitir que o outro sinta a sua falta tem grandes chances de  mobilizar o seu desejo por você. Respeitar a singularidade de cada um, tanto a sua quanto a do outro, conferindo espaço e tempo para que o desejo possa aparecer nas fissuras, nos intervalos, nas pausas da convivência. É preciso entender que existimos com diferenças e que nos tornamos mais sensuais ao alimentar a movimentação da libido em atividades que nos envolvam, que nos estimulem, que nos excitem. Tudo bem se você gosta de dançar jazz e ele ama jogar futebol. Isto é lindo.

Existe, honestamente, algo mais sedutor do que uma pessoa apaixonada pela sua própria vida? Quem se ama, amando o que faz, amando as pessoas com quem convive, estando conectada com as coisas e com o mundo, é capaz de seduzir com mais autenticidade.


E o seu jogo? É a divertida estratégia de criar a sua história.


Escrito por -Taoana-

Um comentário:

  1. Nossa Tao.. vou seguir esse blog com certeza.. adorei seu primeiro post.

    bjus da Estelinha McCartney

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