Freud escreveu sobre a moral sexual dupla em seu texto de 1908: “MORAL SEXUAL CIVILIZADA E DOENÇA NERVOSA MODERNA”. Desde
lá, é evidente que as sociedades sofreram transformações, bem como a moral
sexual civilizada vigente. Nos interessa pensar, enquanto estudiosos da psiquê
humana, de que forma as mudanças sociais mediam a constituição das subjetividades
de nosso tempo.
Em seu texto, Freud é claro: aos homens e as mulheres é imposta uma
moral sexual civilizada distinta. A moral dedicada as mulheres é mais restrita;
o exercício das suas vidas sexuais é reservado exclusivamente ao casamento. Na época
de Freud, de forma geral, os homens casavam com a mulher que seria a mãe de
seus filhos, virgens por exigência, enquanto realizavam suas fantasias sexuais
com as outras, nas casas de luz vermelha.
Mas desde quando a moral sexual civilizada imposta as mulheres é mais
severa? Segundo Lins, foi aproximadamente há 5 mil anos atrás que a maior parte
das sociedades mundiais tornaram-se patriarcais. Isso quer dizer que o poder legítimo, exercido em qualquer esfera,
foi concentrado nas mãos dos homens. Nesse cenário, as mulheres passaram a ser
objetos. Objetos de troca entre as famílias, sempre chefiadas por homens. A
sexualidade da mulher passou então a ser controlada, vigiada e oprimida. A
função das mulheres limitou-se ao gerenciamento do lar e a criação dos filhos.
Deveriam ficar longe o suficiente do saber, da política, da cultura e das
artes.
Nos textos de Freud, ele com frequência fala das feministas, pois em
todas as épocas existiram, de fato, mulheres que não aceitavam o papel que as sociedades lhes ofereciam. E por isso, pagavam um preço, geralmente alto. (Que
nos digam as bruxas queimadas vivas em praça pública na Idade Média) Seriam as
feministas de cada tempo mulheres que possuem um complexo de masculinidade
acentuado? Seriam histéricas? Seriam outra coisa?
No entanto, foi nos anos 60 do século passado que a situação das
mulheres se modificou radicalmente. Com a segunda Guerra mundial, movimentos de
contracultura floresceram no mundo. Houve o boom da Revolução sexual; foi
inventada a pílula anticoncepcional, que separou definitivamente o prazer
sexual das mulheres da reprodução. O movimento Flowerpower gritava: make love,
not war! E os jovens cantavam: I can get no, satisfaction, but I try, and I
try, and I try. (que quer dizer: eu não consigo me satisfazer, mas eu tento, e
eu tento, e eu tento.)
Atualmente, na aurora do século 21, principalmente nos países de
primeiro mundo, podemos observar o que Colette Soler, em seu livro O que Lacan
dizia das mulheres, chamou de uma tendência unisex, ou seja, uma tentativa de
homogeinização dos sexos, visando apagar a diferença sexual. As características
que distinguiam o masculino do feminino estão se dissolvendo. A valorização da
individualidade, projetada pelo Mercado, contribui com isso. É comum ouvir
jovens dizerem: “não gosto de homem ou de mulher, gosto de pessoas.” O que isso
quer dizer? O que Freud diria da moral sexual civilizada contemporânea? Uma
questão para se refletir…
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