A vida de
Marilyn Monroe é daquele tipo inacreditável. Vida que parece que foi escrita
para ser um filme de cinema ou uma peça de teatro. Fantasia ou realidade? Os
dois.
“A verdade tem estrutura de ficção.”
Norma Jean
nasceu como uma menina quase comum. Quase. Nunca conheceu o pai, e, devido aos problemas psicológicos
de sua mãe – que era constantemente internada – foi criada por amigos,
vizinhos, e enfim, orfanatos. Sempre que se adaptava em um lugar, que começava
a se apegar e a gostar das pessoas que constituíam a sua “família”, algo
acontecia e fazia com que ela tivesse que se mudar. A princípio, foi sem
escolha: sempre inconstante, insegura.
Gladys, sua
mãe, quando a visitava, dizia: “Um dia você será uma estrela de cinema!” Gladys
trabalhava, quando estava bem, na indústria cinematográfica.
Ainda bem
jovem, com 17, teve a oportunidade de se casar. Era a chance de ter um lugar,
uma família, um porto seguro. Norma não hesitou e se casou com um típico
rapaz da classe média tradicional americana. Mas a união não durou muito… O
marido viajava muito a trabalho e Norma ficava. E algo dentro dela a dizia
que ela não era uma tradicional esposa americana. Que o seu papel não era o de
ficar dentro de casa, esperando o marido voltar, cuidando das crianças, cozinhando…
Algo nela se movimentava constantemente. Uma coisa dentro dela era por de mais
dinâmica, possuía muita energia, e precisava usá-la. Queria, também, ter seu
próprio dinheiro. Nunca conhecera a estabilidade e não sabia viver com ela.
Foi então
que começou a trabalhar em uma fábrica fazendo um trabalho mecânico e braçal.
Chamava a atenção por onde ia, e,
enquanto trabalhava começou a atrair a atenção dos colegas homens e a inveja
das mulheres. Virou assunto. Usava roupas justas que acentuavam seus contornos
perfeitos, seu traços muito sensuais e ingênuos ao mesmo tempo. Era isso que
perturbava, que comovia os olhares de uma forma estranha. Era incomum. Sua pele
reluzia e brilhava como uma estrela. Ela era diferente.
Foi quando
um fotógrafo a viu trabalhando e a chamou para uma sessão de fotos. A partir
desse momento não parou mais. Encontrou nas lentes o olhar onde podia
revelar-se, entregar-se. A lente
da câmera fotográfica representava o olhar que lhe faltava, e o seu desejo era o
de ser vista, amada, ser admirada, ser desejada por esse olhar que não estava lá, mas
que em algum momento estaria. Queria ser notada. Fotografando, tinha
desenvoltura, era vulnerável e forte ao mesmo tempo. Simples e Complexa. Ria
com vontade, vontade amedontradora de ser feliz em algum lugar, em algum tempo.
Vontade de se divertir, de viver com prazer. Iniciou a fazer aulas de teatro
pois queria evoluir em suas representações.
Seu marido
não ficou nada contente com a nova profissão de sua esposa. Modelo, atriz? Isso era coisa de mulher direita? Em um
momento ela teve que escolher: ou a vida de esposa tradicional ou a vida
profissional. Escolheu brilhar. Norma virou Marilyn.
“Um dia
você será uma estrela de cinema!” A voz de sua mãe – esperançosa, enlouquecida – ecoava em algum lugar
dentro e fora dela, ininterruptamente.
Na sua
constante demanda de atenção e desejo teve diversos relacionamentos. Diretores
de teatro, esportistas renomados, autores, politicos, cantores, desconhecidos.
Queria ser amada.
Queria
também, ser uma atriz de verdade. Ser reconhecida pelo seu trabalho, pela sua
produção. Queria ser inteligente, culta. Lia Freud e outros pensadores. No
entando, seu papel de sex symbol parecia estar inscrito nela. Era chamada para
papéis vulgares; loira burra, secretária sedutora, amante. Ela tentava fugir,
mas era isso que atraía com força.
“Um dia
você será uma estrela de cinema!”
No cinema,
sua imagem reluzia e era fascinante para o público. Passou a receber milhares
de cartas por semana. Todos pediam Marilyn. Produtores, diretores, não podiam
negar; tratava-se de um fenômeno.
Mas Marilyn
era insegura. Demorava horas para entrar em cena pois achava que não daria
conta. Chorava, gemia. Precisava que sua professora estivesse ao seu lado,
dando dicas, aconselhando. Não sentia que era capaz, mas algo a fazia entrar em
cena, mesmo depois de horas suspensas em puro terror e sofrimento. Algo a
impulsionava, algo maior do que ela; essa mulherzinha enlouquecidamente bonita
e frágil.
Ficava cada
vez mais conhecida e desejada pelas massas. Passou a fazer uso abusivo de
álcool, remédios, drogas. Sua casa era toda branca, sem móveis, livros
espalhados pelo chão e um único objeto que realmente se sobressaía; um piano
branco que havia sido de sua mãe. Sonhava em salvar sua mãe da loucura algum
dia, trazer ela para morar consigo.
Seu estado
psíquico era cada vez mais abalado. Conseguiu se tornar uma atriz famosa, mas o
título de sex symbol era uma verdade que a incomodava. Queria ser mais, ir
além. Mas era isso, e não conseguia fugir. Casou-se com Arthur Miller,
intelectual politizado, que se separou da mulher para ficar com ela. Em pouco
tempo separaram-se.
Queria engravidar, nunca conseguiu completar uma gestação.
Tornou-se dependente de seu psicanalista.
Nada nunca
era o suficiente. Marilyn era sua própria tentação, seu próprio enigma, seu
próprio pecado.
Nunca se
sentira realmente amada por um homem. Não tinha um pai, e, nos outros homens,
buscava preencher essa falta incomensurável. Repetidas tentativas frustradas de
fazer existir o que não existe. Ela nunca se conformou.
“Um dia
você será uma estrela de cinema!”
No desejo
de realizar o desejo de sua mãe, Marilyn se tornou uma das atrizes mais
conhecidas da história do cinema. Por sua beleza? Sensualidade? História?
Acaso? Isso tudo e nada disso. Os fatores que determinam um acontecimento são
muitas vezes indetermináveis.
Brilhou de
uma forma esquisita, intensa, e dolorosa. Morreu jovem, não se sabe se por
suicídio ou assassinato. Sua chama, de tão forte e sem limites, consumiu a sua
própria vida, levando-a a estrelar na morte rumo a imperecibilidade dos
símbolos.
“Um dia
você será uma estrela de cinema!”
Algumas palavras determinam uma mulher, uma história, um destino; a vida e a morte.
Algumas palavras são arte.